segunda-feira, 30 de agosto de 2010

PRECISA-SE DE JARDINEIROS


A política é uma das mais nobres vocações. A palavra vocação tem origem no latim vocare, e que dizer “chamado”. É um chamado interior de amor, um chamado de amor por um 'fazer', mesmo que não se ganhe nada por isso.

A palavra 'política' tem base no grego polis, e significa cidade. Na Grécia Antiga, a cidade era um espaço seguro, sob a ordem e a tranquilidade, aonde os homens podiam se dedicar na busca da felicidade. No pensamento helênico, ao político cabia cuidar da polis, ficando a vocação política a serviço da felicidade dos moradores da cidade.

Já os hebreus, por se tratarem de um povo nômade, pastores com origens nos desertos do Oriente Médio, não tinham a concepção da busca da felicidade através das cidades; eles sonhavam com jardins.

Para eles, Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se você perguntar a um profeta hebreu "o que é a política?", ele com certeza responderia que é "a arte da jardinagem adaptada às coisas públicas".

O político por vocação é um apaixonado por um grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim!

Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar crônicas e poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastão - lhes o grande jardim para todos.

Conheci e conheço muitos políticos por vocação, uns já foram embora, mas partiram lutando para formar jardins, outros, mesmo com idade avançada, não perderam a vontade de formar jardins, suas vidas sempre foram e continuam a ser um motivo de esperança(...)

Há uma diferença entre vocação e profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação, mas sim no ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um apaixonado.

Se fizermos uma analogia com o relacionamento homem/mulher, o vocacional é como um homem que faz amor pela alegria de amar. Já o profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que recebe dela. É um gigolô.

O jardineiro por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, tenha que aumentar ao seu redor o deserto e o sofrimento.

Assim é que se difere o verdadeiro político do falso político. O primeiro pensa na posteridade, já o segundo, nos 'minutos'.

Quem pensa em minutos não tem paciência para semear árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las.

Nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos por profissão.

Se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos começar a traçar um novo destino. Então, ao invés de desertos e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de homens que tiveram a coragem, o amor e a paciência de semear árvores sem sequer ter a esperança de se assentarem às suas sombras(...)

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