segunda-feira, 13 de setembro de 2010

RECONFIGURAÇÃO E SUSTENTABILIDADE: IDÉIAS E REFLEXÕES*



 Introdução a Administração, Globalização & Empresa 
(211 p.) já está em sua 4ª Edição e pode ser adquirido 
diretamente do autor, Prof. Santo Reni pelo e-mail da 
Editora IEP:  iepgurupi@hotmail.com


A terceira onda de Toffler marca uma economia em que o conhecimento é a principal forma de capital, e neste panorama, a persistência em um sistema econômico baseado na acumulação de capital - surgido com a Revolução Industrial na segunda metade do século XVIII, que direcionou a uma economia com base nos princípios do ganho ilimitado e do racionalismo econômico, ainda faz parte do presente.

            Como exemplo dos esforços na tentativa de preservar antigas teorias na ‘era do conhecimento’, podemos citar o surgimento na década de 90, da Nasdaq - National Association of Securities Dealers Automated Quotations (bolsa de valores das empresas ponto com), que mergulhando   em  um  colapso  (maio  de  2001),  amargou dificuldades até hoje não superadas. Mais recentemente (2009) a fragilidade da economia globalizada ficou eminente com a ‘bolha’ do mercado imobiliário norte americano impulsionando uma crise econômica mundial comparada com a grande crise ocorrida na bolsa de NY em 1929 (até o fechamento dessa edição, nenhuma política de revisão sobre o mercado global de capitais fora proposta). Esses fatos demonstram a necessidade de se repensar o sistema econômico para um modelo menos vulnerável e capaz de atender as exigências do século XXI.

A era do conhecimento também aponta vulnerabilidades no modelo de sistema de produção em massa, alicerçado no reducionismo-mecanicista. A produção em massa aliada ao acúmulo de capital, fez com que se fossem explorados os recursos naturais de forma indiscriminada, desrespeitando a capacidade de resiliência do meio ambiente, ocasionando uma série de problemas irreversíveis à biosfera[1].

            Com relação a forma de produção de bens e serviços, há uma  maior  percepção  da  finitude  do capital ambiental, o que vem forçando uma condição de limitação dos processos, minimização do declínio do meio ambiente natural e utilização com mais eficácia da base dos recursos disponíveis.

No tocante a gestão empresarial, a necessidade de um melhor gerenciamento do capital intelectual, das competências e dos conhecimentos, vem marcando uma significativa mudança em todos os segmentos econômicos. Nos anos 90, o foco era uma postura defensiva e reativa que cada vez mais deve migrar para uma postura ativa e criativa. 
            A concorrência no mercado globalizado redirecionou o poder para as mãos do mercado consumidor (comprador), surgindo com isso um mercado bastante exigente com relação não só a postura socioambiental das corporações, como também aos direitos do consumidor em tudo o que se faz, como regulador das relações econômicas. Neste novo século o fortalecimento dos direitos transindividuais[2] e transnacionais[3] serão cada vez mais evidenciados, buscando reduzir a degradação global do meio ambiente, forçando uma racionalização na utilização dos recursos naturais.  
           
Atualmente, o capital social, constituído por redes, ONGs e pelo compartilhamento de confiança entre as pessoas, passaram a ter uma percepção mais concreta quanto ao seu valor econômico, e a interelação dos atores nesse cenário vem consolidando a maneira como se interagem, tornando-se um fator importante do desenvolvimento econômico.

            O diferencial entre crescimento economico e desenvolvimento economico está mais evidente. O primeiro está mergulhado em uma grande controvérsia (como gerenciar bens finitos para garantir aumentos de lucros constantes e infinitos?), já o segundo é mais lógico e sem dúvida a única solução para enfrentar os problemas dessa nova era: uma economia mais ética com vistas a melhorar a distribuição de recursos e capitais. A realidade da economia aponta que somente o crescimento quantitativo não é suficiente, e o desafio está justamente em colocar em sintonia a sustentabilidade no atual sistema capitalista, uma vez que só é possível a implantação de um modelo sustentável através de políticas eficazes de melhoria na distribuição das riquezas, incluindo aqui as tecnologias.

A gestão ambiental e a responsabilidade social tornaram-se imprescendíveis na capacitação e criação de condições de competitividade da atividade produtiva, independentemente do segmento econômico ao qual fazem parte.

O panorama de redes interligadas como nos ensina Capra (2000), culminou, conforme Morin (2002), no lançamento do homem para a complexa compreensão de uma ‘ecodimensão’. Esta interdependência dos saberes reflete não só no pensamento como também em todas as atividades humanas direta e indiretamente influenciadas e influenciáveis pela, e, na economia e no sistema produtivo como um todo.

             A ‘ecossocioeconomia’ de Sachs (2007), a ‘democracia econômica’ de Dowbor (2008), o ‘contrato natural’ de Serres (1990) e o reencontro entre a ética e a econômica, segundo Sem (1999), são algumas das pistas teóricas e empíricas para compreensão da complexa sociedade de risco[4] do século XXI e uma melhor adequação do mercado e seus agentes neste novo panorama globalizado.



* Título do Capítulo 8.9, publicado no livro Introdução a Administração, Globalização & Empresa, de autoria do Prof. Santo Reni Florão, 4ª ed., 2010. Gurupi: IEP.    


[1] Denomina-se biosfera a região caracterizada pelo conjunto de fatores bióticos (seres vivos) e abióticos (clima, ar, água, solo, etc.) que possibilitam a manutenção da vida no planeta. 
que vem forçando uma condição de limitação dos processos, minimização do declínio do meio ambiente natural e utilização com mais eficácia da base dos recursos disponíveis.

[2] Os direitos transindividuais, também conhecido como metaindividuais e/ou difusos, são direitos cuja natureza do objeto é indivisível, ou seja, ao mesmo tempo em que pertence a todos, ninguém em específico o possui. Seus titulares são pessoas indeterminadas e ligadas a circunstâncias de fato. Como exemplo podemos citar a legislação ambiental e o Código de Defesa do Consumidor.

[3] Direitos transnacionais são aqueles cuja abrangência de aplicabilidade ultrapassa os limites territoriais de uma determinada nação. Também conhecidos como direitos internacionais, podemos citar os tratados e convenções sobre direitos humanos, proteção ambiental, etc.

[4] A denominação ‘sociedade de risco’, de autoria de Ulrich Beck, é conceituada em sua obra, La Sociedad del Riesgo – Hacia uma nueva modernidad, publicada pela editora espanhola Paidós.  

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