quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dividir para dominar

A história dos homens sempre foi escrita com sangue, ou para tranqüilizar os hemofobicos, a ‘ferro e fogo’, cujas vítimas são sempre os mais fracos, é a conhecida lei animalesca do domínio dos fortes sobre os fracos. O poder das armas e do dinheiro, sempre facilitou o uso dos mais fracos pelos fortes para que atingissem seus próprios fins. O sistema escravista que persistiu até o final do século XIX, mostrou de forma clara a condição do domínio dos fortes sobre os fracos, e mais recentemente, outros sistemas de escravidão disfarçados são a prova da existência dessa ‘lei do cão’.

Houve, entretanto, um período que a humanidade teve um pequeno avanço, quando foi, reconhecido pela primeira vez que todos são iguais perante as leis, sem distinção ou discriminação de qualquer tipo, todos tendo o direito a felicidade.

Filosoficamente falando, os homens e as mulheres são “fins” em si mesmos, e não podem ser usados como “meios” de quem quer que seja. Todos têm o direito de lutar para atingir sua própria felicidade e não podem ser utilizados como meios para a felicidade dos outros.

Ao brilhar a luz deste entendimento, desta consciência, eis que surgem as leis para proteger os fracos e as minorias da vontade e uso dos mais fortes – o que deveria de ser. Isso é o que podemos dizer de ‘justiça’. Mas nem sempre as leis são capazes de equilibrar essas diferenças, principalmente se tratando do ‘mundo da idéias’ ou ideologias.

No longo da história sempre esteve presente uma tendência perversa de separar os homens em dois grupos distintos e opostos: de um lado, os “bons”, do outro lado, os “maus”, “mocinhos” e “bandidos”, “fiéis” e “infiéis” e assim sucessivamente. Cada grupo num “time” distinto. Os maus são sempre os outros, aqueles que não pertence ao time que jogamos e por que torcemos. Assim surgiu na sociedade, por obra de ideologias e teologias, o “time” dos mandantes e o “time” dos submissos.

O perigo surge quando, por inspiração da tentação maniqueísta1 de separar tudo em bom e mau, os times são transformados em time dos injustos e exploradores e time dos justos e explorados.

Essa divisão é falsa. É o que BURKE e ORNSTEIN2, denominam de corte-controle. É uma deformação ideológica perigosa porque tira das pessoas a capacidade de pensar racionalmente, é uma ferramenta ‘inconsciente’ de dominação. Não podemos utilizar a psicologia da torcida de futebol: quando a sentença já está dada antes do início do jogo.

Não há que se falar em classe justa. Dentro de todos os grupos humanos há pessoas boas e pessoas más. Dentro de todas as pessoas, moram os mesmos anjos e os mesmos demônios, as mesmas pombas e as mesmas cascavéis. Portanto, é preciso seguir o conselho do Grande Mestre: "Ser simples como as pombas... e astutos como as serpentes... 3"
(1) Diz-se aquele que pensa de forma simplista; é o mundo sendo visto em duas partes distintas: o bem e o mal. O termo é originário da seita denominada Maniqueísta, criada pelo sábio persa Mani ou Manes (216 – 276 d.C.) no século III.
(2) Burke, J. e Ornstein, R., autores do livro O Presente do Fazedor de Machados;Editora: Bertrand Brasil /RJ.1998. A obra é uma primorosa pesquisa antropológica, sociológica e histórica que fala sobre os ‘fazedores de machado’, homens que nos deram o mundo em troca de nossas mentes.
(3) (NT.Mateus 10:16) "Eis que vos envio como ovelhas entre lobos. Por isso, sede prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas." - La Bible de Jérusalem.

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